sábado, 10 de abril de 2010

NOVAS CARACTERÍSTICAS NO PERFIL DO PROFESSOR


No modelo atual, o professor monopoliza a relação, a informação e a interpretação dos fatos. Estabelece uma relação vertical, autoritária, subserviente, onde o poder decisório está em suas mãos. Ele é o transmissor do ensinamento e da verdade inquestionável. Nesse paradigma tradicional de ensino o importante é o produto, o resultado, a transmissão, a cópia do modelo. É um professor que tem compromisso com o passado, com as coisas que não podem ser esquecidas. Em conversa mantida com Fagundes (1996), lembramos que uma nova educação supõe a necessidade de que novas características estejam presentes no perfil do professor, tais como:


  • Ser mais pesquisador do que transmissor. O verdadeiro professor é aquele que também sabe ouvir, observar, refletir e buscar algo sempre que necessário. Sabe como problematizar conteúdos e atividades, propor situações problemas, analisar “erros”, fazer perguntas oportunas, formular hipóteses, sistematizar conteúdos, disponibilizar informações, avaliar no processo. Adota como atitude profissional e instrumento do cotidiano o desenvolvimento da pesquisa para a (re) - construção do conhecimento, utilizando ou não as instrumentações eletrônicas. É através da pesquisa, da experimentação, da reflexão e depuração, que traduz a capacidade de elaboração própria do indivíduo, que o professor garante o movimento, o fluxo de energia da relação educador-computador-aluno, para que as transformações ocorram.
  • Perder o medo de usar a tecnologia e a vergonha de errar enquanto se aprende. Com as rápidas alterações na natureza do conhecimento e na maneira de usá-lo todo profissional deve estar disposto a aprender sempre, o que significa condição de refletir, analisar e tomar consciência do que sabe, se dispor a mudar conceitos e conhecimentos que possui. O professor já não é mais aquele que apenas ensina, mas que aprende permanentemente, numa relação professor-aluno horizontal, recíproca e dialética. O importante é transformar o perfil do professor que tem sempre respostas prontas e certas para aquele que está sempre preocupado em buscar o conhecimento onde quer que se encontre, que questiona o próprio saber e aprende junto com o aluno.
  • Preparar o indivíduo para lidar com a incerteza, com a complexidade na tomada de decisão e ter responsabilidade sobre as decisões tomadas. Educar para a sociedade atual é preparar o indivíduo para conviver num tempo onde as coisas se movimentam com muita rapidez, onde o conhecimento é renovado a cada dia e as distâncias se encurtam rapidamente. Tudo é incerto e imprevisível. Isto requer capacidade de compreender o que ocorre ao seu redor, saber discriminar as informações importantes, adquirir o prazer pelo crescimento contínuo. Requer uma atitude de questionamento crítico, uma boa capacidade decisória, a percepção de diferentes alternativas, a existência de diversos caminhos válidos para o alcance dos objetivos propostos, além da compreensão de que cada indivíduo é quem decide e constrói o seu próprio caminho.
  • Ter a prática cotidiana, a familiaridade e o prazer da intercomunicação. No paradigma tradicional, o professor é um comunicador que tenta ensinar o que sabe para ouvintes passivos e que “nada sabem”. É um sujeito que tem medo e evita a comunicação com a família, com as autoridades educacionais, administrativas e pedagógicas e com os outros colegas. Hoje, a inteligência coletiva, como propulsora da cultura cibernética, requer maior socialização e convivência em grupos, onde o aprendiz re-constrói e elabora com os outros, mesmo a partir da intercomunicação a distância.
  • Ser mais reflexivo do que memorizador. Enfrentar os imprevistos, as mudanças, as incertezas, saber viver e conviver, pressupõem novas capacidades para criar, criticar, questionar e aprender de forma mais significativa. Tudo isso requer uma pedagogia reflexiva, capaz de desenvolver a compreensão, o pensamento analítico e abstrato, a flexibilidade de raciocínio, o que permite a produção do saber e a formação mediante o desenvolvimento de um conhecimento mais elaborado, capaz de garantir um melhor desempenho profissional e uma participação mais adequada no mundo, além de melhor qualidade de vida. Um professor com maior capacidade reflexiva busca a totalidade, a compreensão das interações, a integração das partes e a formulação de sínteses. Leva em consideração os diferentes pontos de vista na busca de soluções aos problemas e ao aperfeiçoamento da prática pedagógica. Em sua evolução intelectual valoriza o ciclo descrição, reflexão, depuração, bem como o pensamento recursivo do qual retira algo de sua experiência anterior na tentativa de construir o novo. Esses aspectos provocam, garantem uma melhor evolução intelectual e humana, pois permitem o desenvolvimento da consciência de si, dos objetos do conhecimento, a compreensão da qualidade do próprio pensamento, a consciência de sua própria consciência.
  • Desenvolver autonomia, cooperação e criticidade. O desenvolvimento dessas habilidades é o que há de mais fundamental num mundo em permanente evolução. Em vez de atrofiar o pensamento, o uso de computadores, se adequadamente utilizados, pode se constituir num excelente instrumento para o pensar crítico e criativo a partir de uma participação ativa do sujeito com as máquinas e com os outros sujeitos. O professor crítico-reflexivo de sua prática trabalha em parceria com os alunos, numa construção cooperativa do conhecimento. Os novos ambientes de aprendizagem informatizados ao utilizarem o enfoque reflexivo em sua prática pedagógica colaboram para o desenvolvimento de pensadores autônomos, mas que, ao mesmo tempo, valorizam a cooperação, a parceria, o compartilhamento entre os diferentes aprendizes, as interações individuais e coletivas mediante o desenvolvimento de operações de reciprocidade e complementaridade. Esses aspectos constituem o suporte fundamental de um novo espaço cibernético caracterizado por um “sujeito coletivo” e uma “inteligência coletiva”, a partir de um novo ambiente onde as soluções podem ser encontradas coletivamente, trabalhando a distância e ajudando-se mutuamente. O desenvolvimento da criticidade facilita a identificação da fonte da informação, a análise de sua validade e a possibilidade de comparações. Requer raciocínio, valores morais e tomada de consciência de seus próprios pensamentos, sentimentos e emoções. É um professor que é capaz de julgar, examinar, comparar divergir e criar. Todos esses aspectos são fundamentais para que os professores sejam capazes de pensarem e realizarem as mudanças educacionais que estão sendo urgentemente requeridas. Uma coisa é pensar na mudança, falar sobre ela, discuti-la e desejá-la. Outra coisa é ser capaz de concretizá-la, fazer algo nascer, gerar novas sementes, novos frutos, ser capaz de morrer para poder transcender e transformar.

Dewey, J. (1978). Vida e Educação. São Paulo: Melhoramentos.







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sábado, 10 de abril de 2010

NOVAS CARACTERÍSTICAS NO PERFIL DO PROFESSOR


No modelo atual, o professor monopoliza a relação, a informação e a interpretação dos fatos. Estabelece uma relação vertical, autoritária, subserviente, onde o poder decisório está em suas mãos. Ele é o transmissor do ensinamento e da verdade inquestionável. Nesse paradigma tradicional de ensino o importante é o produto, o resultado, a transmissão, a cópia do modelo. É um professor que tem compromisso com o passado, com as coisas que não podem ser esquecidas. Em conversa mantida com Fagundes (1996), lembramos que uma nova educação supõe a necessidade de que novas características estejam presentes no perfil do professor, tais como:


  • Ser mais pesquisador do que transmissor. O verdadeiro professor é aquele que também sabe ouvir, observar, refletir e buscar algo sempre que necessário. Sabe como problematizar conteúdos e atividades, propor situações problemas, analisar “erros”, fazer perguntas oportunas, formular hipóteses, sistematizar conteúdos, disponibilizar informações, avaliar no processo. Adota como atitude profissional e instrumento do cotidiano o desenvolvimento da pesquisa para a (re) - construção do conhecimento, utilizando ou não as instrumentações eletrônicas. É através da pesquisa, da experimentação, da reflexão e depuração, que traduz a capacidade de elaboração própria do indivíduo, que o professor garante o movimento, o fluxo de energia da relação educador-computador-aluno, para que as transformações ocorram.
  • Perder o medo de usar a tecnologia e a vergonha de errar enquanto se aprende. Com as rápidas alterações na natureza do conhecimento e na maneira de usá-lo todo profissional deve estar disposto a aprender sempre, o que significa condição de refletir, analisar e tomar consciência do que sabe, se dispor a mudar conceitos e conhecimentos que possui. O professor já não é mais aquele que apenas ensina, mas que aprende permanentemente, numa relação professor-aluno horizontal, recíproca e dialética. O importante é transformar o perfil do professor que tem sempre respostas prontas e certas para aquele que está sempre preocupado em buscar o conhecimento onde quer que se encontre, que questiona o próprio saber e aprende junto com o aluno.
  • Preparar o indivíduo para lidar com a incerteza, com a complexidade na tomada de decisão e ter responsabilidade sobre as decisões tomadas. Educar para a sociedade atual é preparar o indivíduo para conviver num tempo onde as coisas se movimentam com muita rapidez, onde o conhecimento é renovado a cada dia e as distâncias se encurtam rapidamente. Tudo é incerto e imprevisível. Isto requer capacidade de compreender o que ocorre ao seu redor, saber discriminar as informações importantes, adquirir o prazer pelo crescimento contínuo. Requer uma atitude de questionamento crítico, uma boa capacidade decisória, a percepção de diferentes alternativas, a existência de diversos caminhos válidos para o alcance dos objetivos propostos, além da compreensão de que cada indivíduo é quem decide e constrói o seu próprio caminho.
  • Ter a prática cotidiana, a familiaridade e o prazer da intercomunicação. No paradigma tradicional, o professor é um comunicador que tenta ensinar o que sabe para ouvintes passivos e que “nada sabem”. É um sujeito que tem medo e evita a comunicação com a família, com as autoridades educacionais, administrativas e pedagógicas e com os outros colegas. Hoje, a inteligência coletiva, como propulsora da cultura cibernética, requer maior socialização e convivência em grupos, onde o aprendiz re-constrói e elabora com os outros, mesmo a partir da intercomunicação a distância.
  • Ser mais reflexivo do que memorizador. Enfrentar os imprevistos, as mudanças, as incertezas, saber viver e conviver, pressupõem novas capacidades para criar, criticar, questionar e aprender de forma mais significativa. Tudo isso requer uma pedagogia reflexiva, capaz de desenvolver a compreensão, o pensamento analítico e abstrato, a flexibilidade de raciocínio, o que permite a produção do saber e a formação mediante o desenvolvimento de um conhecimento mais elaborado, capaz de garantir um melhor desempenho profissional e uma participação mais adequada no mundo, além de melhor qualidade de vida. Um professor com maior capacidade reflexiva busca a totalidade, a compreensão das interações, a integração das partes e a formulação de sínteses. Leva em consideração os diferentes pontos de vista na busca de soluções aos problemas e ao aperfeiçoamento da prática pedagógica. Em sua evolução intelectual valoriza o ciclo descrição, reflexão, depuração, bem como o pensamento recursivo do qual retira algo de sua experiência anterior na tentativa de construir o novo. Esses aspectos provocam, garantem uma melhor evolução intelectual e humana, pois permitem o desenvolvimento da consciência de si, dos objetos do conhecimento, a compreensão da qualidade do próprio pensamento, a consciência de sua própria consciência.
  • Desenvolver autonomia, cooperação e criticidade. O desenvolvimento dessas habilidades é o que há de mais fundamental num mundo em permanente evolução. Em vez de atrofiar o pensamento, o uso de computadores, se adequadamente utilizados, pode se constituir num excelente instrumento para o pensar crítico e criativo a partir de uma participação ativa do sujeito com as máquinas e com os outros sujeitos. O professor crítico-reflexivo de sua prática trabalha em parceria com os alunos, numa construção cooperativa do conhecimento. Os novos ambientes de aprendizagem informatizados ao utilizarem o enfoque reflexivo em sua prática pedagógica colaboram para o desenvolvimento de pensadores autônomos, mas que, ao mesmo tempo, valorizam a cooperação, a parceria, o compartilhamento entre os diferentes aprendizes, as interações individuais e coletivas mediante o desenvolvimento de operações de reciprocidade e complementaridade. Esses aspectos constituem o suporte fundamental de um novo espaço cibernético caracterizado por um “sujeito coletivo” e uma “inteligência coletiva”, a partir de um novo ambiente onde as soluções podem ser encontradas coletivamente, trabalhando a distância e ajudando-se mutuamente. O desenvolvimento da criticidade facilita a identificação da fonte da informação, a análise de sua validade e a possibilidade de comparações. Requer raciocínio, valores morais e tomada de consciência de seus próprios pensamentos, sentimentos e emoções. É um professor que é capaz de julgar, examinar, comparar divergir e criar. Todos esses aspectos são fundamentais para que os professores sejam capazes de pensarem e realizarem as mudanças educacionais que estão sendo urgentemente requeridas. Uma coisa é pensar na mudança, falar sobre ela, discuti-la e desejá-la. Outra coisa é ser capaz de concretizá-la, fazer algo nascer, gerar novas sementes, novos frutos, ser capaz de morrer para poder transcender e transformar.

Dewey, J. (1978). Vida e Educação. São Paulo: Melhoramentos.







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